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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Abacate Margarida e o centenário da imigração japonesa

http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,MUL427853-9980,00.html

27/04/08 - 09h23 - Atualizado em 28/04/08 - 16h07

Dedicação japonesa contribuiu para a produção de frutas brasileiras

Filho de imigrantes, produtor descobriu nova variedade, mais produtiva, de abacate.
Mais do que técnicas agrícolas, imigrantes trouxeram sabedoria milenar.

Do G1, com informações do Globo Rural

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A maior parte dos imigrantes japoneses que chegaram ao Brasil desde o desembarque do Kasato Maru, em 1908, veio para trabalhar no campo. E é na agricultura que está a principal herança dos japoneses ao país.

Veja o site do Globo Rural

Mais do que técnicas agrícolas, eles trouxeram ao Brasil uma sabedoria milenar. Esses primeiros cem anos provam que eles se deram bem, que progrediram e que entraram para sempre na história do país.

No Paraná, a história de um agricultor mostra parte da contribuição desses imigrantes à produção de frutas no Brasil.

A colônia

A região norte do Paraná é uma das mais tradicionais produtoras de grãos do país. Olhando do alto, quase não se vê terra desocupada. Nesta época do ano, as lavouras de soja e milho, em fase final de colheita, dominam a paisagem.

É um cenário bem diferente daquele que os primeiros japoneses encontraram quando chegaram ao Brasil na década de 1920.


“Era tudo mato. Tinha até onça. Hoje a gente não vê mais”, diz Miguel Makyiama. Makyiama nasceu no Brasil, mas seus pais vieram do Japão em 1925 para trabalhar em lavouras de café. Primeiro no estado de São Paulo, depois, no norte do Paraná. Em 1940, a família conseguiu comprar o primeiro lote de terra. Uma pequena gleba, com menos de dez hectares, no município de Arapongas.


“Aqui formava uma colônia japonesa católica. Para fazer a colônia, o pessoal sofreu bastante. Não tinha maquinário. Era tudo na base de machado. O fundador dizia que sofria muito, mas que tinha o sonho de fazer uma colônia. Então, eu acho que a gente sofria, mas tinha uma visão do que ia chegar a ter hoje aqui”, diz Miguel.


Na década de 50, a colônia batizada de Esperança chegou a ter 160 famílias, com mais de dois mil moradores. Gente que fez a vida plantando: primeiro feijão, algodão e depois café. Mas as geadas freqüentes desanimaram os agricultores, que foram buscar culturas alternativas para dividir espaço com o café. Foi assim que o abacate chegou em 1950.

Bom para a saúde

“Tinha um padre japonês, o padre Nakamura, que fala que no Brasil existia uma fruta muito boa para a saúde. Então, eu queria saber o que era. E soube que se tratava do abacate. E quando deu a geada em 1955 eu já pensei em trocar. No final de 1973, comecei a plantar o abacate. Em área pequena, o ideal é fruta”, justifica ele.

Hoje o abacate cobre a maior parte dos 19 hectares do sítio: são mais de mil pés. Na próxima safra, que começa a ser colhida em agosto, a produção deve alcançar 200 toneladas.


A fruta ajudou a criar os sete filhos de Makyiama. Enilda, a única que vive na propriedade, conta que ela e todos irmãos têm diploma de curso superior.


“Eu me formei em pedagogia. Foi o pai quem bancou toda a faculdade, minha e dos meus irmãos. Todo mundo fica espantado que o abacate dá essa produção, mas, às vezes, é melhor que a soja”, disse Enilda. Além de garantir o sustento da família, o abacate acabou por mudar a vida do produtor.


Variedade

Em 1979, Makyiama percebeu que em seu pomar tinha um pé de abacate muito diferente dos outros. “A diferença é que ele dava fora da época. Dava de agosto até novembro ou chegava até dezembro. Outros davam de março e terminavam em agosto. Bem na entressafra. Então, ele tinha a produção também. Produzia muito bem. E a durabilidade do produto também é boa”, explicou.

Empolgado com esse abacateiro tão diferente dos outros, ele convocou técnicos da Universidade de Londrina, do Instituto Agronômico do Paraná, que acabaram comprovando tratar-se de uma nova variedade. Quando se compara a fruta com um abacate da variedade fortuna, mais tradicional, é possível ver a diferença.


A variedade nova é bem redondinha, o abacateiro fica enorme e é bastante produtivo. Mesmo com o fruto verde, se abre o fruto, é possível notar outra diferença importante. “Ele é aderente e bom para o transporte porque quando bate, não fere a fruta. Não amassa dentro. Então, essa é a vantagem”, esclarece Miguel.


Para batizar a descoberta, o produtor contou com a ajuda de um agrônomo da cooperativa de Cotia, que naquela época dava assistência aos produtores da região. “Eu falei que o abacate não tinha nome. Então, ele perguntou como se chama a minha mulher. Eu contei que é Margarida. Daí, ele falou parara pôr o nome de Margarida. Eu disse que não sabia. Porque japonês fala mari, que é redondo. E é meio parecido entre margarida e mari. Então, já que é redondo, vamos colocar margarida. Aí ficou”, lembrou Miguel.


Comercialização

Para transformar o margarida numa variedade comercial, foi preciso muita dedicação e paciência. Foram anos multiplicando a árvore mãe, fazendo mudas e avaliando a produção dos novos abacateiros. Tudo pra garantir que eles conservassem as características da planta original.

Em Minas Gerais, muitos agricultores decidiram investir nesta variedade que produz fora de época e é bem aceita no mercado.


Na região do Alto Paranaíba, uma das maiores produtoras de Minas Gerais do abacate margarida, tem quase 1,5 mil hectares plantados em plena produção. Na fazenda de José do Vale, com mais de cinco culturas, o abacate é a que tem custo menor e maior rentabilidade.


“No ano passado, por exemplo, foi minha cultura principal, a que me deu mais lucro. No passar dos anos, é uma cultura rentável”, avaliou Vale.


A variedade produz 15% mais do que as outras. Além disso, é uma das mais requisitadas pelos consumidores por causa da durabilidade após a colheita. O abacate margarida é fonte de renda garantida também para os trabalhadores rurais. A cultura emprega centenas de pessoas que vêm de outros estados em busca de serviço nas lavouras do Alto Paranaíba.


Sucesso

O sucesso dos agricultores que cultivam a variedade margarida anima Miguel a continuar trabalhando. Aos 71 anos, ele nem pensa em aposentadoria, mas dividiu o negócio com um dos genros, o Cláudio Monteiro. Hoje, é ele quem produz as mudas.

“A gente foi se apaixonando pela muda e pelo lucro também. Sempre foi lucrativo. Então, a gente foi ficando. O seu Miguel foi colocando aos poucos na nossa cabeça e a gente foi acreditando”, fala Monteiro.


Transferindo o negócio para o genro, o produtor ganhou tempo pra fazer o que mais gosta: procurar novas variedades de abacate. Nos últimos anos, ele freqüentou cursos, aprendeu a fazer cruzamentos entre plantas e está sempre de olho no pomar, atento a qualquer diferença.


A nova aposta Miguel é o cruzamento do margarida com outra variedade. “Eu fiz o cruzamento por causa da preferência do povo brasileiro. Eles gostam de formato comprido. O margarida é redondo e eles gostam dos mais comprido. A gente vai tentando pra ver se consegue melhorar mais”, disse seu Miguel.


Quando encontra algum material promissor como esse, ele corta o galho pra fazer estacas. Elas seguem para o campo experimental do sítio, onde ele testa as novas variedades. As estaquinhas são enxertadas em brotos de abacateiros adultos que ele poda exatamente pra isso.


Vai levar, pelo menos, dois anos pro enxerto crescer e começar a produzir abacate. Só então Makyiama vai saber se a nova variedade tem futuro no mercado. Mas o que o move a continuar depois de tantos anos a procurar uma nova variedade de abacate?


“Eu penso na família. Eu penso no pessoal. A gente tem que fazer alguma coisa boa, deixa pra eles também. Eu estou trabalhando nesse sentido, deixar para os netos e para a nova geração. Dar continuidade ao trabalho”, respondeu.

Aspectos Gerais:
O abacateiro (Persea americana L.) é uma árvore elegante, de caule pouco reto e que, em estado silvestre, chega-se até 20 m de altura. Quando cultivada, sua altura é bem menor. Do fruto comestível também se pode extrair um óleo semelhante ao azeite de oliva. Curiosamente, o abacateiro é considerado legume na maior parte do mundo, sendo consumido como salada, sopa e sob a forma de conserva.

Colheita:

O abacateiro começa a produzir no terceiro ano após o plantio, e a produção de uma planta adulta oscila entre 200 a 800 frutos por ano. A variedade margarida, desenvolvida pelo Iapar, é considerada das mais lucrativas, porque seus frutos amadurecem tarde e alcançam melhores preços. Plantando-se espécies precoces, de meia-estação e tardias, com polinizadoras que floresçam na mesma época, podem-se colher frutos o ano todo.